Levanta a mão quem aproveita a uma viagem para os Estados Unidos e faz aquela visita a uma das mega farmácias que existem por lá? É difícil mesmo resistir àqueles corredores ostentando potes e mais potes, de tamanhos e cores variadas, carregados de suplementos que prometem solução para quase tudo. Do combate ao estresse à fonte de rejuvenescimento, da prevenção de doenças cardíacas à redução da calvície, para evitar o Alzheimer ou manter o combo pele-cabelo- unha tinindo… Os compostos vitamínicos e minerais apelam até aos mais céticos. Só nos Estados Unidos, esse mercado movimenta US$ 30 bilhões, com cerca de 90 mil produtos nas prateleiras. Uma pesquisa recente mostrou que mais da metade dos adultos americanos consome pelo menos um suplemento, sendo que 10% deles usam pelo menos quatro produtos. Só que, antes de engolir seu arsenal diário de pílulas mágicas, você já se perguntou se tudo isso tem efeito? Pois é. Um estudo publicado este ano no conceituado Journal of the American Medical Association (JAMA) mostra que a maior parte dos suplementos de vitaminas e minerais mais vendidos nos Estados Unidos não traz benefícios para a saúde. E alguns podem até ser prejudiciais, como o betacaroteno, a vitamina E e o selênio, que, em doses excessivas, podem favorecer o câncer e o AVC. Outras substâncias já têm efeitos colaterais conhecidos, como a hipervitaminose de vitamina A, que pode ocasionar visão turva, confusão mental, sonolência, aumento da pressão intracraniana e dor de cabeça, entre outros sintomas. O estudo do JAMA veio na esteira de uma polêmica envolvendo o médico endocrinologista Michael Holick, da Universidade de Boston. Em 2010, os estudos de Holick recomendavam o aumento das doses de vitamina D para níveis bem acima dos preconizados anteriormente. Muitos aderiram, impulsionando não só o mercado de produtos como também o de testes para a dosagem da substância. ‘‘Nos últimos anos, a vitamina D era a coqueluche. Todo mundo tomava para queda de cabelo, osteoporose, prevenção de câncer… Parecia a cura dos males da humanidade’’, conta Fernanda Deutsch Plotzky, da Clínica Célula Mater. Em agosto de 2019, descobriu-se que Holick recebeu centenas de milhares de dólares da indústria, levantando sérias dúvidas sobre seus achados.
Não seja mais uma vítima da moda dos suplementos. Há muitos motivos para desconfiar de que eles não valem a pena a não ser que se prove que são maléficos’’, revela o médico. Isso sem contar a variação nas formulações. ’’Antigamente vendia-se em lojas naturais um suplemento feito de casca de laranja para emagrecer. Depois de analisado, descobriu-se que ele continha cibutramina’’, conta Fernanda. Para ela, antes de gastar dinheiro em suplementos, o melhor é fazer uma boa consulta, em que o médico poderá adequar os produtos às suas necessidades. Para algumas pessoas que possuem deficiência em certos nutrientes, ou predisposição a determinadas doenças, os suplementos podem sim ser aliados desde que prescritos com boa orientação.
Para completar, outro estudo, este publicado no The Lancet , compilou resultados de 81 trabalhos sobre a vitamina D – que, juntos, incluem dados de 57 mil mulheres. ‘‘A conclusão foi de que ela não previne quedas, não previne fraturas, não melhora a densidade mineral óssea’’, revela Fernando Nóbrega, também ginecologista e obstetra da Célula Mater.
Fernando lembra também de outros modismos que se revelaram falsos: o da Ginkgo Biloba, comercializada para melhorar a memória, o da Equinácea, para a prevenção de resfriados, o da erva-de-são-joão, para amenizar sintomas de depressão. ‘‘Uma questão importante pensar nos suplementos é a segurança. Ao contrário dos medicamentos, a lei os considera seguros