Uma das instituições mais respeitadas na área de ginecologia, o American College of Obstetricians and Gynecologists (Acog) divulgou recentemente uma nova orientação: o dispositivo intrauterino, ou DIU, deve ser encorajado não só como método anticoncepcional para mulheres adultas mas também para as jovens.
A medida vem ao encontro de uma prática que já se vê cada vez mais nos consultórios: “Está na moda falar em DIU para adolescente”, afirma a ginecologista Dra. Fernanda Deutsch Plotzky.
“É um método bastante eficaz e prático porque é só colocar e esquecer – diferentemente da pílula, que precisa ser lembrada todos os dias”, diz a Dra. Fernanda Deutsch Plotzky.
Um estudo publicado na revista científica Contraception corrobora ainda mais o entusiasmo da comunidade médica: ao analisar a interação das adolescentes com o DIU, verificou-se que 96,4% conseguiram colocá-lo na primeira tentativa, a taxa de expulsão do dispositivo foi de apenas 2,9% e, após um ano, nenhuma das pacientes que usaram o método havia engravidado.
Um resultado encorajador se considerado que a probabilidade de gravidez indesejada entre quem usa pílula é de 9% – principalmente devido ao mau uso.
Apesar disso, seu uso entre as meninas ainda desperta certa resistência – tanto entre alguns médicos, como entre as jovens e as mães. Isso porque sabe-se que alguns tipos de DIU podem aumentar o risco de infecções uterinas causadoras de infertilidade.
“Atualmente esse risco é menor porque as bactérias que costumam provocar esse tipo de infecção, como a clamídia e a gonorreia, são menos frequentes por serem sensíveis a antibióticos”, diz Carlos Czeresnia, ginecologista e obstetra da Célula Mater.
Ele lembra também que o DIU hormonal, conhecido pelo nome comercial de Mirena, além de impedir a ovulação, reduz ainda mais o contágio de bactérias, pois favorece a formação de uma espécie de muco que bloqueia a passagem das bactérias para o útero. Mesmo com esses avanços, Czeresnia está entre os que preferem receitar o método com mais cautela: “Eu particularmente só colocaria numa mulher jovem se ela tivesse uma atividade sexual regular”, pondera.
O DIU de cobre, por sua vez, também tem seus poréns. Diferentemente do Mirena, ele aumenta bastante o fluxo menstrual. E também as cólicas – que costumam melhorar após seis meses. “Tem que ter paciência”, ensina Fernanda, lembrando que os três primeiros meses são os mais críticos.
“O limite para esperar se o efeito colateral vai embora é de seis meses, tanto para o DIU de cobre quanto para o Mirena.”
Na hora de escolher o melhor contraceptivo, é preciso considerar também outros fatores: embora seja extremamente prático, algumas mulheres não conseguem se adaptar ao DIU com facilidade.
O Mirena pode causar um sangramento irregular. “É um pinga-pinga chatinho, que é difícil resolver”, explica Fernanda. Isso acontece porque a progesterona liberada pelo Mirena faz o endométrio ficar muito fino.
Se por um lado a menstruação fica pratica ou totalmente inexistente, o útero fica mais sensível, sangrando a qualquer hora. E tem mais: a mesma progesterona também pode aumentar a acne e, em alguns casos, favorecer o ganho de peso.
Por fim, é bom lembrar que o uso do DIU não dispensa a camisinha, que também protege contra doenças sexualmente transmissíveis. E que nenhum método reversível é 100% eficaz.
Existem dois tipos de DIU. O mais antigo é o de cobre, um metal que tem ação espermicida e altera o ambiente do endométrio.
O DIU hormonal, por sua vez, libera constantemente doses pequenas de progesterona. Seu mecanismo de ação é mais eficaz por que ele age em várias frentes.
Em primeiro lugar, também tem efeito espermicida — mas, mesmo que algum espermatozoide consiga sobreviver, o hormônio inibe a sua motilidade. Além disso, ele ainda funciona como uma barreira física, já que os hormônios deixam a secreção que sai do útero mais espessa, formando uma espécie de tampão, que dificulta a passagem do espermatozoide. Para completar, ele deixa o endométrio bem fino e não receptivo ao embrião.
Não dá para mentir: colocar o DIU não é lá muito agradável. Mas o procedimento é muito parecido com o do papanicolau. Assim como nesse exame, você terá que ficar em posição ginecológica para que o médico coloque o um aparelhinho chamado espéculo, que abre a vagina, permitindo que ele visualize o colo do útero.
Aí ele vai usar uma pinça especial para segurar o colo do útero e introduzir o DIU através da sua abertura. Essa parte é a mais chata: geralmente, provoca cólicas porque, sendo o DIU um corpo estranho, é natural que o útero se contraia. Alguns médicos usam uma medicação analgésica antes do procedimento. “Mas na verdade os estudos mostram que eles não ajudam muito”, diz Fernanda.
Outra alternativa é realizar a colocação no Centro Cirúrgico, com sedação*. Mas fica mais caro: enquanto o procedimento custa entre R$ 3,5 mil e R$ 4,5 mil, dependendo do tipo de DIU escolhido, e há um acréscimo no valor caso você opte por fazê-lo no centro cirúrgico**.
No final, o médico irá realizar um ultrassom transvaginal para verificar se a posição do DIU ficou adequada. Tudo isso não deve levar mais que 30 minutos.
Após a primeira menstruação, você terá que voltar ao consultório para que o médico verifique, por meio de um ultrassom, se o DIU está no lugar. Depois, é preciso repetir esse exame pelo menos uma vez por ano.
*A Célula Mater dispõe em sua estrutura de um centro cirúrgico totalmente equipado para esse e outros procedimentos.
** A Omint cobre tanto a colocação do DIU em consultório como no centro cirúrgico, mediante solicitação de autorização prévia.
Fonte: Revista Célula Mater Press. Edição 03, 2012
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Reportagem: Martha San Juan França
Direção de arte: E-Made Comunicação
Revisão de Texto: Paulo Kaiser