A medicina teve avanços muito importantes e significativos nas últimas décadas, com a melhora dos métodos diagnósticos, novas medicações e novos conceitos. Embora trate de um evento que acompanha a humanidade desde a sua origem – o nascimento – a obstetrícia não foge da norma.
O parto humanizado e normal é, sem dúvida nenhuma, mais natural do que a cesárea, um procedimento cirúrgico. No parto normal, é o bebê que decide a hora certa para vir ao mundo, sinalizando que está maduro e pronto para enfrentar a vida fora do útero. Entretanto, em virtude de mudanças na vida das mulheres e de informações equivocadas, o parto normal está sendo deixado de lado às custas de altos índices de cesarianas sem indicações precisas.
A mulher moderna trabalha, cuida da casa, dos filhos, das finanças, está mais independente e, por isso, nem sempre é fácil esperar o momento que o bebê decide nascer. Assim, o desejo, a paciência e a colaboração da mulher são de extrema importância para permitir um parto natural. Não importa se for de madrugada, dia de chuva e trânsito, mas sim que o bebê esteja maduro. Para isso, o pré-natal tem função primordial, esclarecendo dúvidas e eliminando medos muitas vezes provenientes de histórias de conhecidos, sem nenhum fundamento técnico.
Um dos maiores tabus do parto normal é a dor. Não é para menos: ela existe e denota a evolução do chamado trabalho de parto. Entretanto, graças aos avanços das técnicas de anestesia, um parto normal com conforto é, sim, possível. Há tempos atrás, com receio das complicações e do potencial efeito dos anestésicos no bebê, a analgesia era usada raras vezes, ou então apenas no período final do trabalho de parto, após horas de desconforto e dor. Hoje, com novas medicações e com a técnica de duplo bloqueio, os médicos tem muito mais flexibilidade, podendo indicar a analgesia de acordo com a intensidade das queixas da mulher, sem receio de que o procedimento possa atrapalhar a evolução do parto. Pelo contrário: eventualmente se utiliza a analgesia como instrumento para corrigir eventuais dificuldades no decorrer do trabalho de parto.
Outra preocupação frequente é a dúvida sobre a segurança do parto normal para o bebê. Obviamente, qualquer procedimento médico têm algum risco, mas cada vez mais é possível monitorar o bem-estar fetal, permitindo o controle adequado da vitalidade do bebê ainda no útero. Dessa forma, pode-se indicar a cesárea caso a monitoragem demonstre que o bebê está ficando sem reservas para suportar o período final do trabalho de parto. Na maioria dos casos, a evolução é tranquila e observa-se, ao contrário do que muitos imaginam, que o risco de complicações é menor do que quando realizada a cesárea. Há evidências de que o trabalho de parto sinaliza para o bebê que o nascimento está próximo, provocando em resposta um aumento da produção de diversos hormônios, entre eles os corticoides, que aceleram o amadurecimento fetal. Além disso, a passagem pelo canal de parto provoca a compressão mecânica do tórax do bebê, ajudando a eliminar o excesso de líquido amniótico dos pulmões. Assim, ao nascer, o bebê consegue respirar melhor, e pode ir mais rápido para o colo da mãe.
Além dos benefícios para o bebê, o parto normal também é vantajoso para a mãe. O período que antecede o parto pode até ser mais angustiante, mas uma vez em trabalho de parto, a própria mulher passa a ser a protagonista, podendo experimentar sensações muitas vezes ausentes na cesárea com dia marcado. Somando-se aos aspectos emocionais e de realização pessoal, o parto normal também tem menores taxas de complicações que a cesárea, como infecções, hematomas e dificuldades de cicatrização. A recuperação é mais rápida, propiciando mais qualidade na interação da mãe com o recém-nascido, momentos tão importantes e inesquecíveis na vida de ambos.
Por todos esses motivos, o parto normal tem inúmeros benefícios em relação à cesárea e, desde que não haja contra-indicações, deve haver sempre uma tentativa por parte da mãe e do obstetra de realizá-lo. Lembre-se: um parto normal com conforto e segurança é possível. Preconceitos apenas impedem que as mulheres experimentem a sensação do trabalho de parto e realizem seu desejo de ter um parto normal.