Falar sobre sexo com os jovens não é tarefa das mais simples. Se o início da vida sexual merece uma conversa com alguém mais experiente, é preciso muito tato para não invadir a privacidade ou criar uma barreira intransponível.
Corpo meio desengonçado, aparecimento de espinhas, temperamento difícil, humor volátil… Tá na cara: são os sinais de um transbordamento de hormônios que prenuncia que aquela criança chegou à adolescência – e, portanto, vive em meio a uma avalanche de desejos sexuais, de sensações novas e pouco compreendidas naquele momento.
A questão assombra os pais desde sempre. E, se é certo que algumas famílias conseguem manter um canal aberto dentro de casa, facilitando bastante a missão, a grande maioria dos jovens prefere não tocar no assunto com os pais, por vezes, por vergonha, medo da reação ou mesmo por acreditarem que os pais não acrescentarão nada de útil naquele momento.
Atualmente o acesso à informação é muito maior do que nas gerações passadas. Grande parte das escolas têm aulas sobre sexualidade, os meios de comunicação abordam o assunto abertamente. Graças a isso, é difícil encontrar um menino ou uma menina que não saibam da importância do uso da camisinha ou ignorem a possibilidade de uma gravidez não planejada ou o risco de uma infecção sexualmente transmissível.
Mas o acesso à informação, tanto na escola quanto através da internet, não significa que eles estejam seguros para tomar as devidas precauções na hora H.
Assim, uma boa conversa iniciada em em casa, onde aconselhar e enfatizar a necessidade do autocuidado na prevenção de gestação e de transmissão de doenças deve ser o ponto chave é fundamental.
Um estudo feito na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e divulgado no ano passado mostrou que um terço dos jovens de 14 a 25 anos nunca usa o preservativo em suas relações sexuais.
Atualmente sabemos que os jovens têm iniciado a vida sexual mais cedo, experimentado situações distintas quando comparados aos que os seus pais viveram. Essa mudança dos tempos também atingiu em cheio o modo como os filhos encaram o assunto, colocando em xeque diversos paradigmas.
Diante dessa situação, o que definitivamente não funciona é adotar uma postura de dono da verdade, sob o risco de criar, assim, uma distância ainda maior.
Sendo assim, buscar compreender a ótica do adolescente em uma conversa pode abrir caminho para falar e ser ouvido sobre a importância do autocuidado, respeito com o próprio corpo e segurança.
A disponibilidade de informação sobre sexo tampouco garante que os jovens se sintam preparados para decidir o que estão prontos para fazer, e com quem. Por isso, vale a pena investir em um papo mais direto e pessoal. Mas como fazer isso sem criar um clima pesado?
Dizer que está aberto para uma conversa pode ajudar, mas implica em deixar o adolescente a cargo do primeiro passo – o que pode ser difícil para ele.
Outra abordagem é introduzir o tema de maneira indireta, comentando uma reportagem que fale sobre o tema, perguntando se algum amigo já viveu aquela situação…
Vale lembrar que uma postura autoritária pode ser extremamente prejudicial neste momento, afastando o jovem e fechando o canal de comunicação sobre o tema
Questões culturais, de criação ou de personalidade, tanto dos pais quanto dos filhos, influenciam muito no espaço que existe na relação para esse tipo de conversa.
E quando esse espaço é estreito demais, pedir ajuda de alguém da confiança de ambos pode ser a saída.
No caso das meninas, uma ótima opção é sugerir que ela converse com um ginecologista.
Idealmente a primeira consulta deve ocorrer antes do início da vida sexual. O adolescente pode levar algum tempo para confiar no médico e se sentir à vontade para conversar sobre o tema.
Uma vez que a filha se dispôs a conversar com o médico, as mães devem perguntar se elas querem ir acompanhadas ou não – e usar a sensibilidade para perceber se a jovem prefere ficar sozinha na consulta, mesmo que não verbalize. E isso foi comprovado por cientistas.
Um estudo realizado na Escola de Medicina da Indiana University, nos Estados Unidos, mostrou que a presença dos pais pode fazer com que eles não falem sobre assuntos como vida sexual, drogas, estresse e autoimagem.
Por vezes, a consulta pode começar com a mãe ou o pai na sala, mas no geral, é válido ter um momento em que a adolescente fique sozinha. Estes momentos de privacidade são entendidos pelo adolescente como momentos de independência, gerando também a ideia de responsabilidade pelo próprio corpo.
“Os pais precisam entender que, por mais legais e abertos que sejam, não são amigos dos filhos e não são vistos pelos adolescentes dessa forma”, avisa Maria Helena Vilela.
Além disso, é importante que os responsáveis entendam que eles até podem abordar assuntos pontuais com o médico antes da consulta, mas que toda menina, mesmo as menores de idade, tem direito à confidência do ginecologista.
“Eu sempre explico isso no primeiro encontro para que a paciente se sinta mais à vontade para abordar assuntos como este, por exemplo.
De qualquer forma, falar sobre sexo com o filho adolescente vai se tornar de fato uma missão impossível se os pais não investirem em passar tempo de qualidade com eles.
“Fazer as refeições juntos, passear juntos, conversar sobre as coisas em geral são formas de melhorar a comunicação como um todo”, lembra Maria Helena.
Com isso, abre-se a possibilidade de assuntos como esse surgirem com mais naturalidade, deixando claro para o jovem que ele tem nos pais pessoas que querem o seu bem e que, acima de qualquer coisa, é essencial respeitar seu corpo e suas vontades.
Fonte: Revista Célula Mater Press, edição nº 10, página 08, 2015
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Reportagem: Thaís Szego
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