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HETERO? BI? HOMO? TRANS? CHEGA DE RÓTULOS DE GÊNERO

A descoberta da identidade de gênero e da orientação sexual pode ser uma fase perturbadora para pais e filhos. Mas é possível vivenciá-la de maneira saudável.

Você pode não saber o que é uma transgênero homossexual, mas talvez já tenha cruzado com alguma por aí. Você pode também ficar profundamente ofendida se alguém lhe chamar de cisgênero heterossexual, mas sem ter a menor ideia do que isso significa.

Os conceitos que tentam abarcar a complexidade das diferentes manifestações da sexualidade humana invadiram as redes sociais, revistas, jornais, televisão.

Mas, para muitos, continuam difíceis de entender. A confusão existe por toda a parte: na cabeça de quem olha, na cabeça de quem vive a questão – e mesmo na de muitos profissionais de saúde que deveriam cuidar desse assunto.

Para os jovens que estão descobrindo sua própria sexualidade, a situação é perturbadora, principalmente se não sentirem abertura para se expressar. “A adolescência é um período difícil, ainda tem muita mudança e conflito, e a sexualidade não é necessariamente estável. É um momento de experimentação”, define a ginecologista e obstetra Mariana Schiffer Acar.

Segundo o psiquiatra Daniel Mori, do Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Hospital das Clínicas, o fato do assunto ser abordado na mídia e entre os próprios jovens é positivo. “Fica mais fácil encontrar o grupo ao qual eles pertencem, que é talvez um dos maiores dilemas da adolescência. Conversar com pessoas que passaram pelas mesmas questões facilita a autocompreensão”.

É uma fase?

A experimentação dos filhos, no entanto, deixa os pais de cabelo em pé. Para acalmá-los, Mori explica que experiências pontuais não são suficientes para definir a orientação sexual a longo prazo. “Não é porque um menino ou uma menina teve uma experiência homossexual durante a vida que vai necessariamente ser gay”, constata, lembrando que essa é uma situação bastante comum, mas que muitas vezes deixa de ser falada.

Mariana vai além: “Reprimir não vai fazer um jovem experimentar menos. Só causa mais sofrimento”.

Como lidar com a sexualidade dos filhos

Embora pais e filhos não raro possam se sentir desorientados sobre como lidar com o assunto, abrir um canal de comunicação faz diferença. “Vejo que os adolescentes que se sentem mais confortáveis para falar desenvolvem melhor a sexualidade”, opina Mariana.

“As experiências ruins acontecem, e se você não consegue elaborá-las isso pode ficar como uma nuvem negra ao longo da vida”. Para Mori, um ambiente familiar em que haja desrespeito às preferências e sentimentos da criança ou do jovem pode levar a problemas maiores, como transtornos psiquiátricos.

Se dentro de casa ou entre os amigos os jovens podem se sentir hostilizados, muitas vezes nos consultórios médicos não é diferente. Mariana revela que não houve em sua formação uma orientação sobre como acolher ou tratar pessoas que tenham questionamentos em relação ao seu gênero ou à sua orientação sexual. “Quem se interessa por isso tem que buscar informação fora da faculdade, que é o que tenho feito”, conta.

A saúde da mulher homossexual e da mulher transsexual 

Não à toa, portanto, muitas meninas e mulheres homossexuais ou transgênero se sentem desconfortáveis nos consultórios dos ginecologistas. E, por isso, deixam de frequentá-los. Mas, se não há a preocupação com a anticoncepção, o cuidado com a saúde e com os riscos de contaminação por doenças sexualmente transmissíveis ainda existe, independente da orientação sexual ou da identidade de gênero.

“A partir do momento que uma pessoa tem uma relação sexual desprotegida, está se expondo a esse risco”, diz Mariana. Além disso, para Mori, existem questões específicas envolvendo a saúde da mulher homossexual que precisam ser levadas em conta pelo médico.

“Procurar um profissional de saúde que conheça essas particularidades é importante. Mas sobretudo o paciente tem que sentir confiança para verbalizar essas questões no consultório”, opina.

Por mais difícil que possa ser, Mori gosta de ressaltar que é possível cuidar de uma pessoa que passa por esses questionamentos de maneira que vivencie todas as fases do desenvolvimento e a vida adulta de uma maneira saudável. “A Medicina em geral tem a tendência de separar mente e corpo”, diz Mariana. “Agora estamos caminhando para ver o ser humano como um todo, e no tema da sexualidade isso é particularmente importante”, conclui a médica.

O bê a bá da questão

Um glossário para entender os conceitos de gênero

Gênero: Masculino ou Feminino, de acordo com o sexo de nascimento.

Identidade de gênero: É a identificação de uma pessoa com o sexo que lhe foi designado ao nascimento.

Se a pessoa se identifica com o sexo que nasceu, ela é chamada cisgênero. Caso se note pertencente a outro gênero nos seus pensamentos, sentimentos e gosto, é classificada como transgênero ou transexual.

Orientação sexual:

Começa a aflorar no final da infância e início da puberdade. É para quem a pessoa dirige seus afetos, seus sentimentos e desejos sexuais. É completamente independente da identidade de gênero, de maneira que uma pessoa pode ser transexual e homossexual, ou cisgênero e bissexual.

Expressão de gênero:

É a manifestação física da identidade de gênero, pela maneira de se vestir e agir, ou por alterações corporais – realizadas com o uso de hormônios ou cirurgias – que representem essa identidade.


Fonte: Revista Célula Mater Press, edição nº17, página 10, 2017
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Responsável técnico: Carlos Eduardo Czeresnia – CRM 20245
Conselho editorial: equipe médica Célula Mater
Editora responsável: Débora Mamber Czeresnia
Reportagem: Débora Mamber Czeresnia
Direção de arte: E-Made Comunicação
Revisão de texto: Paulo Kaiser

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