Não se sabe ao certo o número de mulheres acometidas por endometriose no mundo, mas estima-se que de 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva apresentem a doença. Quando consideradas apenas as mulheres com dor pélvica e infertilidade, a frequência de endometriose atinge proporções de 50% e 80%, respectivamente.
A endometriose é uma doença que se caracteriza pela presença de endométrio (camada interna de revestimento uterino) fora do útero.
O local mais comum de se encontrar focos de endometriose é na superfície dos órgãos pélvicos, sendo especialmente mais frequente encontrar endometriose nos ovários, nas tubas uterinas e no septo reto-vaginal (região entre o útero, vagina e reto).
Embora seja mais raro, é possível também encontrar lesões na bexiga, sobre o ureter, no músculo diafragma e, inclusive, em regiões extra-abdominais, como na pleura (tecido que reveste os pulmões).
Hoje sabemos que a endometriose não é uma doença limitada a lesões na região pélvica, mas é considerada uma doença inflamatória crônica, que causa além de sintomas dolorosos pélvicos e infertilidade, manifestações sistêmicas com potencial repercussão em outros sistemas e órgãos, como o sistema nervoso central, fígado, baço e tecido adiposo.
Algumas teorias já foram propostas para se tentar explicar de onde vem a endometriose. A principal delas é a teoria da menstruação retrógrada. As demais teorias versam sobre a transformação de tecido saudável em tecido de endometriose (teoria da mataplasia celômica), sobre migração do endométrio através dos vasos sanguíneos e/ou linfáticos para outras regiões ou sobre predisposição genética, alterações embrionárias e imunológicas.
Para explicar a teoria da menstruação retrógrada é preciso primeiro esclarecer como acontece a menstruação normal. Ao longo do mês, o endométrio, que é o tecido biológico que reveste a camada interna do útero, cresce e sofre modificações em resposta a estímulos hormonais, principalmente dos hormônios estrogênio e progesterona. Caso não ocorra gravidez, o estímulo hormonal é interrompido, o endométrio descama e é descartado em forma de sangramento menstrual, saindo pelo colo do útero e se exteriorizando pela vagina.
A teoria da menstruação retrógrada defende que, durante as menstruações, parte do sangue menstrual, contendo componentes do endométrio que descamou, flui não apenas pelo colo do útero mas também pelas trompas (ou tubas uterinas) e atinge o interior da cavidade abdominal. O sangue menstrual e os elementos de endométrio nele presentes podem então se “implantar” nos órgãos intra-abdominais, em especial aqueles mais próximos ao útero e às tubas uterinas, como ovários, superfícies externas do útero e das próprias tubas uterinas e região do septo reto-vaginal.
Os sintomas da Endometriose podem causar diversos prejuízos na qualidade de vida das mulheres e do casal, já que têm o potencial de dificultar a realização de atividades cotidianas como relacionamento com outras pessoas, realização de práticas esportivas e trabalho, levando a repercussões em diversos aspectos de suas vidas, com impacto físico, psicológico e financeiro.
A dor pélvica crônica é um dos sintomas mais frequentes e um dos mais desafiadores para tratar em pacientes com endometriose. Esse tipo de dor se desenvolve por um mecanismo diferente daquele envolvido na dor aguda, pois além de precisar do estímulo inflamatório inicial causado pelos focos de endometriose, precisa também da ativação de mecanismos que atuem na manutenção da sensação dolorosa, como por exemplo o estresse crônico e experiências emocionais negativas.
Também chamada de dismenorréia, é um dos sintomas mais comuns da doença. Pode variar de intensidade de leve até muito intensa, podendo trazer limitações importantes às atividades cotidianas.
Também é chamada de dispareunia. Esse sintoma ocorre especialmente durante a penetração na parte mais profunda da vagina e está associado à presença de focos de endometriose na região entre o colo uterino e o fundo vaginal.
Os sintomas mais comuns nesse tópico são diarréia, obstipação, cólicas intestinais, dor durante a evacuação e sangramento intestinal durante o período menstrual.
Os sintomas mais comuns nesse tópico são dor na bexiga, aumento da frequência urinária, sensação de urgência para urinar e sangramento com a urina durante o período menstrual.
Definida como dificuldade para engravidar após um ano de tentativas, pode ser causada por endometriose. Nesses casos, os mecanismos pelos quais a endometriose pode causar infertilidade envolvem, entre outros fatores, a destruição de óvulos saudáveis, distorções na anatomia das tubas uterinas causando obstrução mecânica para encontro do óvulo com o espermatozóide e produção de fatores inflamatórios que atrapalham todo o processo de concepção, desde a ovulação, passando pela fecundação até a implantação do embrião no endométrio.
Outros sintomas menos frequentes podem estar presentes, como dor perineal ou na entrada da vagina, dor no tórax, dor no ombro e dor ou sangramento da parede abdominal, em geral relacionados à presença de endometriose de localização atípica.
É importante destacar que, apesar de a localização do foco de endometriose muitas vezes se correlacionar com o sintoma apresentado pela paciente, nem sempre essa correlação existe e, quando presente, pode ser desproporcional, ou seja, focos pequenos de endometriose podem causar sintomas exuberantes e existem casos de mulheres com endometriose extensa que apresentam pouco ou nenhum sintoma.
A endometriose é uma doença muito comum entre as mulheres, principalmente entre aquelas que apresentam dor pélvica ou infertilidade. Como os sintomas associados à endometriose não são específicos, seu diagnóstico pode demorar muito tempo, atrasando o início do tratamento e causando prejuízos irreparáveis na vida de muitas mulheres e muitos casais.
As mulheres com endometriose enfrentam muitos desafios, desde o diagnóstico até o tratamento de todas as repercussões dessa doença, muitas vezes agravados pela falta de compreensão da doença por parentes, amigos e por outros profissionais da saúde.
Se você se identificou com algum dos sintomas descritos acima, pode ser que tenha endometriose e que precise de tratamento adequado. Lembre-se, ter dor pélvica, cólica menstrual intensa ou dor durante as relações sexuais não é normal.
O Dr. Fernando sempre teve afinidade com o universo da saúde. Filho de funcionários de hospitais, cresceu com acesso a livros e informações médicas. Por gostar da área e de grandes desafios, escolheu a medicina.
Cursou medicina na USP e lá se especializou em ginecologia e obstetrícia e em seguida em oncologia ginecológica. Hoje é especialista em cirurgia laparoscópica e cirurgia robótica e dedica a maior parte do seu tempo para tratar doenças como endometriose, mioma e câncer ginecológico.
Confira o vídeo do Dr. Fernando Nobrega aqui