Você já ouviu falar em “ditadura do parto”? Na condição de gestante, caso tenha vivido a experiência da gravidez, você já se sentiu pressionada a tomar decisões sobre a sua gestação, tipo de parto e outras escolhas, seja por influência familiar, social e até mesmo do seu ou da sua obstetra?
Pois bem, a ditadura do parto e da maternidade tem a ver com isso. É um “pacote” às vezes bem pesado, que se refere ao conjunto de ideias e práticas que se impõem sobre as mulheres durante a gravidez, o parto e a maternidade. Essas supostas convenções podem ser impostas por médicos, profissionais de saúde, familiares e até mesmo pela sociedade em geral.
A ditadura do parto pode envolver padrões rígidos e inflexíveis sobre como o parto deve ser realizado, muitas vezes ignorando as preferências e necessidades das mulheres. Algumas práticas incluem o uso excessivo de intervenções médicas, como cesáreas e episiotomias, e a restrição do movimento durante o parto. Essas práticas podem ser traumáticas para as mulheres e prejudicar a saúde da mãe e do bebê.
Por princípio, o nascimento jamais deveria ser tratado como tão somente um conjunto de procedimentos médicos, mas sim como um ato fisiológico, um importante evento familiar e cultural e um momento único entre mãe e filho.
Saiba que o tipo de parto realizado pode influenciar na saúde da mãe e do bebê.
De fato, o parto normal é geralmente considerado o mais seguro e indicado em situações de baixo risco. Mas na verdade “o melhor parto é aquele que funciona para a relação mãe e bebê”, explica a Dra Natalia Zekhry.
Com 22 anos de experiência em medicina, a Dra. Natalia já atuou em diversos hospitais e ambulatórios e, ao longo dos anos, se especializou em patologia do trato genital inferior e medicina antroposófica. Mãe de três filhos, ela se sente motivada por apoiar o nascimento de forma gentil e humanizada.
Segundo o Ministério da Saúde, em 2020 foram registrados cerca de 2,6 milhões de partos no Brasil, sendo que 53,1% foram partos normais e 46,9% foram cesáreas. O número total de partos pode variar de ano para ano, e também pode ser afetado por fatores como a taxa de natalidade e as políticas de saúde implementadas pelo governo.
Entretanto, muitas mulheres estão optando pela cesariana por acreditarem que é uma solução prática. A indústria do parto vem crescendo no Brasil. Mais do que uma moda passageira, ter filhos “com hora marcada” é hoje sinônimo de status. A mentalidade pró-cesárea tornou-se difundida entre as mulheres em melhor situação e seus médicos.
Segundo pesquisa publicada pela renomada revista científica “The Lancet”, nas últimas duas décadas, as taxas de cesariana mostraram um aumento constante em todo o mundo. Mas enquanto a maioria dos países desenvolvidos experimentou um aumento gradual, as taxas de cesariana dispararam no Brasil. As taxas nos EUA (24%) e no Reino Unido (22%) estão um pouco acima do nível aceitável de 10 a 15%, recomendado pela OMS, mas o Brasil lidera a lista com as maiores taxas de cesariana do mundo: 30% em hospitais públicos e mais de 70% em hospitais privados e maternidades.
Vale chamar a atenção também para outro tipo de ditadura, a “ditadura da maternidade” a qual se refere às expectativas e pressões impostas às mulheres após o parto, como a pressão para amamentar exclusivamente, a ideia de que a mãe deve ser a única responsável pelos cuidados com o bebê e a cobrança por uma recuperação rápida do corpo após o parto.
Essas pressões podem ser exaustivas e prejudiciais para a saúde mental das mulheres. A escolha e as preferências das mulheres devem ser respeitadas durante todo o processo de gravidez, parto e maternidade.
O acompanhamento por profissionais que sejam empáticos e que respeitem a autonomia das mulheres é essencial para garantir uma experiência positiva e saudável para todas as envolvidas.
É essencial que a sociedade em geral pare de impor padrões e expectativas irreais e compreenda que cada mulher tem sua própria jornada e sua própria maneira de vivenciar a maternidade.
“Sinto que fui escolhida pela medicina, nunca houve outra opção. Tenho um encantamento pela compreensão do corpo humano e pela manutenção da saúde”. Dra. Natalia, ginecologista e obstetrícia na Clínica Célula Mater, se especializou em patologia do trato genital inferior e medicina antroposófica.