Sim, isso existe. Graças a uma nova tecnologia, simples, rápida e indolor, é possível reestruturar a mucosa da vagina, amenizando alguns dos sintomas típicos da menopausa.
Quando o laser começou a ser aplicado em alguns campos da medicina, desbancou antigos tratamentos e promoveu verdadeiras revoluções. Foi assim na oftalmologia, fazendo milhares de pessoas abandonarem anos de uso de óculos após alguns poucos minutos de cirurgia. Na dermatologia, os aparelhos de laser levam multidões aos consultórios buscando reduzir manchas e rugas. Do dentista ao urologista, muitos se renderam às utilidades e à praticidade do laser. Agora, chegou a vez da ginecologia.
Quando a menopausa se aproxima, os efeitos da queda dos níveis de estrógeno começam a pipocar. Várias estruturas do organismo sofrem transformações devido à falta do hormônio. A pele é uma das vitrines mais evidentes dessa transição: basta uma olhada cuidadosa no espelho para notar que ela fica mais flácida, menos túrgida. Sinais de que as fibras colágenas e elásticas, responsáveis por formar a trama de sustentação da pele, estão em franco declínio.
A mudança provoca a redução do fluxo de sangue pelos vasos e diminui a capacidade de retenção de água pelas células. Sem a mesma irrigação e hidratação, a pele fica seca, quebradiça e fina. Só que esses efeitos acontecem em todo o corpo – inclusive na mucosa da vagina.
Apesar de não serem tão visíveis como aqueles desagradáveis vincos na face, as consequências de uma mucosa vaginal envelhecida podem atrapalhar bastante a qualidade de vida.
Falta de lubrificação, dor na relação sexual e perda de urina são algumas das queixas que chegam a incomodar cerca de 30% das mulheres na menopausa. E em boa parte dos casos, não havia tratamentos eficazes para reverter o quadro. Até agora.
“Esses sintomas são muito frequentes e sempre foram tratados de forma pontual: o ginecologista se preocupa com a vagina, o urologista com a uretra, e nem sempre tínhamos muito a oferecer”, admite a urologista Miriam Dambros, da Clínica Célula Mater.
Com a chegada de um novo aparelho, o Laser Erbium Yag, que está disponível na clínica desde setembro, Miriam passou a utilizar a técnica principalmente para mulheres com incontinência urinária e se diz animada com os resultados. “O laser se concentra no processo que levou a esses desconfortos”, diz. “Depois de uma única aplicação, já vemos melhoras.”
O tratamento preconizado é duas ou três sessões, que são feitas no próprio consultório e não exigem nenhum preparo. “Usamos apenas um creme anestésico. A aplicação é indolor, já que o tipo de laser que se usa para essa finalidade não queima”, explica a médica. A sessão dura cerca de 20 minutos. Depois, é preciso usar um creme vaginal para ajudar na hidratação do tecido por alguns dias, e só.
A paciente é orientada a evitar relações sexuais e atividades físicas durante cinco a sete dias. Os resultados duram cerca de um ano. Por ser uma técnica nova (os estudos feitos com o laser vaginal foram publicados há dois anos), ainda é cedo para preconizá-la como a grande salvadora da pátria.
Mas, assim como Miriam, outros médicos parecem entusiasmados com os resultados, principalmente quando pensam em distúrbios para os quais não havia muitas opções de tratamento. Um deles é um prurido crônico da vagina, uma coceira persistente que não respondia a nenhuma terapia.
“Um estudo feito no Hospital das Clínicas com 20 mulheres que tinham essa condição demonstrou bons resultados”, revela a ginecologista Lucila Pires Evangelista, da Célula Mater.
Há também casos de mulheres que não podem fazer reposição hormonal, como quem teve câncer de mama ou trombose. “Como o laser é mecânico, ele pode ser usado sem problemas nessas pacientes.”
Outra indicação, segundo Lucila, é para quem sente desconforto na relação sexual durante o período de amamentação. “A queda dos níveis de estrógeno e a prolactina em alta provocam sintomas bem parecidos com os da menopausa”, explica. Mesmo sendo uma fase transitória, pode ser bem chata se a amamentação se prolongar. E, nesses casos, não adianta repor o estrógeno, porque a prolactina o impede de atuar.
Segundo Miriam, mulheres jovens com incontinência urinária de esforço também podem se beneficiar do laser vaginal. “Para essas, antes só havia a alternativa cirúrgica”, conta. Miriam ressalta, no entanto, que é preciso a avaliação de um especialista antes de indicar a técnica.
Apenas o ginecologista ou o urologista poderão verificar as condições da mucosa e da musculatura perineal. “O laser não age no músculo, então, se o problema for uma flacidez nessa região, não vai ajudar”, ressalta a médica.
Por isso, ela considera que a fisioterapia do assoalho pélvico continua sendo um método útil. “Os dois são complementares”, avalia. Tampouco a reposição hormonal deve ser descartada. “São coisas que vão juntas. Não há nenhuma contraindicação em fazer uma reposição hormonal e dar um boost com o laser”, opina Lucila.