Se a mulher se sente sobrecarregada pelas tarefas da casa, dos filhos, do trabalho, e percebe pouca cumplicidade na divisão desses afazeres com sua parceria, como fica a vontade de transar?
Se ela não dorme por causa das alterações hormonais da chegada do climatério, como vai ter energia para o sexo?
Se não existe mais a intimidade de beijos, abraços e toques na relação do dia-a-dia, como acender a ignição do tesão?
Ao contrário do que se alardeia por aí, a libido feminina não é tão misteriosa assim. Mas que é complexa, ah, isso é. Está relacionada com o cérebro e as emoções, tanto quanto com o corpo em si. Por isso, as transformações fisiológicas são apenas uma parte da conversa quando se fala na queda do desejo sexual feminino depois que os ciclos menstruais cessam.
Mas será que as parcerias se dão conta disso?
Essa é a constatação de Lu Ângelo, sexóloga e terapeuta sexual, colunista da Vogue e convidada especial do evento Sexo e Menopausa, que se deu em março, mês da mulher, o pontapé inicial do ciclo Célula 40+, criado para desmistificar os temas relacionados à saúde feminina na maturidade.
Essa complexidade exige que se trilhe um caminho na relação com o outro para que o prazer sexual possa seguir pulsante na maturidade. “Antes de atirar o vibrador na cama, vamos tentar reconectar o toque, o beijo, o abraço, a intimidade, por menor que seja esse gesto?”, convidou Lu. Para isso, segundo ela, vale até mesmo ativar o sexo agendado. Pode ser mais uma brincadeira, um convite à intimidade. Se rolar, rolou. Mas se não rolar, é um ponto de partida para a reconstrução desse caminho.
A repressão e o tabu que permeiam o sexo também desempenham papel central no banho de água fria que costuma afetar a sexualidade feminina – e não apenas no climatério. Por exemplo: Quem disse que o tesão masculino é muito mais visual que o da mulher? Para Lu Ângelo, essa ideia é mais uma construção cultural e social. “A mulher também sente algo quando vê um homem bonito, que a atrai, mas logo vem a repressão, e ela abafa”, diz.
De qualquer forma, não se pode negligenciar as transformações que atingem em cheio o corpo feminino quando a produção dos hormônios femininos cai. Até mesmo os receptores nervosos se alteram, o que faz com que a resposta aos estímulos sexuais também seja diferente. Algo que era prazeroso em outro momento da vida pode deixar de ser – e vice-versa. “Nós ficamos mais exigentes, e ainda bem”, ressalta Lu.
Para descobrir novos caminhos e reencontrar o prazer perdido, o mercado de bem-estar sexual traz uma série de opções, que vão desde tipos diferentes de lubrificantes íntimos a gadgets feitos para agradar a consumidora feminina no quesito design, bem como no mecanismo de ação. Os sugadores de clitóris, que vêm ganhando espaço e adeptas, é o melhor exemplo disso: “Ele caiu muito no gosto das mulheres porque possibilita um orgasmo rápido e bem potente. Inclusive muitas mulheres que nunca haviam tido um orgasmo conseguiram com o sugador”, relata Lu.
A ginecologista e obstetra Natalia Zekhry lembrou que toda a musculatura pélvica está envolvida no processo orgástico. “O orgasmo promove uma contração do músculo, então se a região estiver flácida, hipotônica, ele se torna mais fraco e mais curto.” Natalia diz que esse trabalho muscular pode ser feito com pilates, outras práticas físicas que dão atenção ao assoalho pélvico, como o pompoarismo, e a fisioterapia pélvica.
E quando se fala em falta de lubrificação e atrofia vaginal – sintomas extremamente frequentes no climatério e que afetam bastante a vida sexual – um dos recursos que podem ajudar (e muito) é o laser vaginal. “O laser é uma luz que estimula o tecido colágeno”, explica Natalia. “Ele promove um rejuvenescimento da mucosa”. O procedimento é indolor, e recomenda-se três sessões para um melhor resultado, embora já se possa sentir uma diferença considerável após uma única sessão. De qualquer forma, é preciso tomar cuidado na hora da escolha do profissional para aplicar o laser. Natalia reforça que ele deve ser feito por um médico. “Se mal calibrado, o aparelho pode causar queimaduras”, alerta.
A hidratação da região íntima durante ou após o banho com o uso de óleo de coco é outra dica dada por Natalia. “Ele também pode ser usado como lubrificante, então é legal que esteja presente, por perto, porque vira algo do cotidiano, à mão.”
“Tive uma paciente que estava há dez anos na menopausa e há dez anos não dormia”, conta Joana Curado, também ginecologista e obstetra da Célula Mater. Para ela, é perigoso normalizar os sofrimentos que podem atingir as mulheres no climatério – seja a insônia, a secura, a incontinência urinária… Embora sejam comuns, eles podem, sim, ser tratados.
A reposição hormonal é uma grande aliada para aliviar uma série de desconfortos e questões desse momento da vida – inclusive o tesão. A testosterona vem sendo utilizada para aumentar a libido, melhorar ganho de massa muscular e disposição. Mas precisa de um acompanhamento bastante próximo. “Não é fácil mexer com hormônios, principalmente porque a resposta é individual, não é uma receita de bolo. Isso exige uma disponibilidade tanto do médico quanto da paciente”, ressalta Joana.
Depois de falar sobre sexo, experimentar produtos, expor dúvidas e trocar experiências, as mulheres que estiveram no evento exaltaram a importância de abrir esse espaço de compartilhamento e de quebra de tabus. Ao final da conversa, uma das participantes lembrou do que sua mãe lhe dizia, com o dedo em riste e a voz firme, mas sussurrante: “Não fale sobre isso, menina”. Hoje, sua resposta: “Desculpe, mãe, mas eu vou falar, sim”.
Para assistir à íntegra da conversa e saber mais sobre o assunto, clique aqui.
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