Aviso às gestantes: amamentar não é nada fácil. Mas, vencidos os primeiros obstáculos, essa fase pode ser, sim, muito prazerosa para mãe e bebê.
Sabe aquela clássica imagem da madona amamentando seu bebê? O semblante sereno da mãe, as bochechas gordas e rosadas do filho, um halo de paz que envolve a dupla num momento tão angelical… Agora esquece. O aleitamento, logo no início, não guarda nenhuma semelhança com essa aura romântica propagada desde os tempos dos pintores renascentistas e até as campanhas de amamentação, empenhadas em mostrar a importância dessa fase para a saúde do bebê.
Sim, as campanhas estão certas neste ponto: não há nada melhor para o bebê que o leite materno. Um alimento mágico, que contém todos os nutrientes e muitos dos anticorpos necessários para o recém-nascido. Não bastasse isso, ainda vem acompanhado do carinho, do colo, do calor, da presença e do olhar da mamãe – elementos imprescindíveis para dar segurança ao recém nascido. A sucção do mamilo serve também para preparar a criança para outras façanhas, como a mastigação, a deglutição, a fala… Enfim, seria preciso parágrafos e parágrafos só para exaltar as virtudes do aleitamento.
Mas tão importante quanto conhecer os benefícios é compreender também que alcançar a tal imagem da madona vai demandar uma boa dose de resiliência. “Hoje não temos muitas experiências próximas de grávidas ou lactantes para observar suas dificuldades, não sabemos como é de fato um parto, ou a amamentação. Só o que vemos são fotos de bebês lindos, de gestações maravilhosas, mas isso nem sempre passa o que de fato aconteceu”, diz Roseli Monteiro, enfermeira obstétrica da Célula Mater. Para ela, preparar-se para esse momento começa por colocar em questão a idealização que circunda o tema. “Algumas queixas e dores não devem ser encaradas como problemas, mas sim como naturais dessa fase de adaptação”, diz.
Existem, claro, algumas sortudas que atravessam o aleitamento sem nenhum aperreio. Se esse for seu caso, você tirou um bilhete premiado. “Ter dificuldade para amamentar é a regra, e não a exceção”, concorda a obstetra Natalia Zekhry, da Célula Mater. Segundo ela, amamentar coloca em xeque a masculinização das mulheres, que se distanciaram de seus instintos femininos em favor de uma personalidade mais objetiva e racional. O peito não vem com dosador, não é possível saber se o bebê mamou 60 ou 100 ml. Amamentar pressupõe transcender a previsibilidade e o controle. “É preciso olhar para o bebê e entrar em contato com ele, sua pele, se ele tem refluxo, se arrota, se parece satisfeito, se está fazendo cocô ou xixi…” E, de preferência, deixar o relógio – e os smartphones, e os aplicativos de amamentação – em segundo plano. Não que eles não tenham nenhuma utilidade. Podem, sim, ser usados para fornecer dados para que fique mais fácil saber quanto tempo o bebê mamou, qual o intervalo entre as mamadas. Mas não para que, com base nisso, a mãe tente criar uma regra. “Cada dia é um. O bebê às vezes está mais irritado, às vezes está mais faminto. E a produção do leite também varia ao longo do dia. Não somos maquininhas perfeitas”, lembra Roseli.
Roseli costuma comparar as escoriações e fissuras do mamilo no início da amamentação ao que acontece quando usamos um sapato novo. Ao experimentarmos o sapato na loja, vemos que o couro é bom, ele nos serve bem. Mas, depois de passar um dia todo caminhando com ele, você nota que há alguns machucados em determinados pontos do seu pé. Se usá-lo no dia seguinte, vai machucar novamente. Assim é o mamilo, atritado dentro da boca de um bebê durante 20 ou 30 minutos, várias vezes por dia. Vai doer mesmo, até que essa pele caleje para resistir à sucção – o que pode levar uma semana ou um mês. As dicas práticas espalhadas ao longo desta reportagem são preciosas para ajudar a minimizar os desconfortos.
Outra fonte de sofrimento costuma ser a balança do pediatra. “Quando o bebê não atinge certo cálculo de ganho de peso por semana, isso se transforma num atestado de que você é ou não uma boa mãe. É preciso transcender esse lugar e olhar para outros parâmetros para ver se a criança está ou não saudável”, afirma Natalia, lembrando que a mãe precisa desenvolver os próprios parâmetros, sem precisar do aval do pediatra. Segundo Natalia, é na briga com a balança que muitas questões emocionais antes encobertas acabam alcançando a superfície. Às vezes, é um descompasso entre o casal. Outras, a relação da mãe com a profissão, e os medos que surgem com o nascimento da criança. “Uma mulher que trabalhou durante os últimos 15 anos tem uma relação com a produtividade que cria um conflito, porque estar disponível para amamentar pode não ser produtivo no olhar dela”, conta a médica.
De quebra, há sempre as palpiteiras de plantão, dispostas a torcer o nariz e propagar inverdades que aumentam ainda mais a cobrança sobre a mulher que tem dificuldades em se adaptar ao aleitamento. “O importante é que a mãe se sinta livre em sua escolha: se quiser fazer amamentação mista, se optar ou não pela livre demanda, ou até mesmo se decidir não amamentar, são escolhas de cada uma”, lembra Natalia.
Para as que persistirem, é bom saber: vale a pena. Passado esse primeiro período de obstáculos, você pode esquecer de tudo o que leu aqui, porque já não vai precisar de dica alguma. E aí, sim, ver que a tal imagem da madona também tem sua verdade.
Você notou que as aréolas ficaram mais escuras, e os seios aumentaram? São sinais de que seu corpo está se preparando naturalmente para a amamentação durante a gestação. Não é necessário nenhum outro preparo. Se quiser passar hidratantes nos seios para prevenir estrias, evite usá-los nas aréolas para não prejudicar a hidratação natural.
Entre o terceiro e o quinto dia após parto, acontece a chamada descida do leite, ou apojadura. Para muitas mulheres, pode ser um momento sofrido. A mama vai ficando mais quente, aumenta de volume, até ficar bem cheia e dolorida, com muitas áreas endurecidas. O corpo também pode ficar num estado subfebril, que chega a durar cerca de três dias. Por sorte isso acontece quando o bebê começa a ter uma demanda maior – e, quanto mais ele mamar, mais a mama vai amolecer, ajudando a melhorar o desconforto. Como o organismo ainda não sabe o volume ideal para esse bebê, ele vai continuar produzindo mais que o necessário, até que, com o ritmo das mamadas se estabelecendo, o corpo se adapte. Se os mamilos estiverem muito endurecidos, dificultando a pega, faça movimentos circulares ao redor de toda a aréola e depois ordenhe até esta região ficar bem macia, facilitando a pega.
• Tomar sol no mamilo
• Deixar o mamilo exposto sempre que possível, evitando o atrito com o tecido de roupas
• Use pomadas de lanolina em pequena quantidade
• Coloque discos de hidrogel nos intervalos
• Quando a dor for muita ou houver alguma fissura importante, a mãe pode suspender a lactação naquele seio por uma mamada, dando um descanso maior à pele escoriada
1. Sente-se em um lugar tranquilo e confortável, com almofadas para auxiliar o apoio do braço.
2. Posicione o bebê, apoiando bem a cabecinha na dobra do seu braço. Ele deve estar de frente para você, a barriga dele virada para a sua
3. Leve o peito em direção ao bebê, colocando o mamilo em sua boca.
4. Certifique-se de que ele está abocanhando boa parte da aréola, e não apenas o bico.
5. Recoste novamente na cadeira, relaxando ombros e braços.
6. Se a pega estiver correta, a dor deve diminuir progressivamente. Caso contrário, você pode retirar o mamilo da boca do bebê e reiniciar o processo. Para isso, coloque o dedo dentro da boca dele, até que ele solte o seio.
7. Varie a posição do bebê. Isso pode poupar um pouco as áreas escoriadas
O chamado empedramento, na verdade, são as glândulas mamárias, que, assim como um saco plástico, endurecem quando estão cheios demais. Para aliviar o desconforto, use compressas frias, bolsas de gelo ou água gelada, sempre protegendo a pele. O frio tem ação anti-inflamatória. Se isso não resolver, procure orientação. “Ordenha e massagens podem estimular ainda mais a produção de leite. É preciso uma avaliação de alguém especializado”, diz Roseli.
Embora muitas mães tenham dificuldade em se adaptar à livre demanda, até por volta da sexta semana de vida, recomenda-se oferecer o peito sempre que o bebê tiver vontade, mesmo sem saber se ele está com fome ou não, e sem olhar para o relógio. Você verá que, com o passar do tempo, naturalmente, as mamadas entrarão num ritmo mais previsível. Mas há ressalvas: se ele quer mamar de hora em hora, é preciso tentar quebrar esse ciclo, ou o cansaço irá derrubar a produção de leite, provocando uma bola de neve. Para isso, procure despertá-lo durante a mamada, trocar a fralda entre um peito e outro, ou tirar sua roupa. Isso o fará mamar por mais tempo, deixando-o saciado por um período maior. No outro extremo, se o bebê dorme por mais de quatro horas, é preciso despertá-lo para mamar. “Quando os bebês estão muito sonolentos, a mãe pode achar normal e diminuir o número de mamadas durante o dia. Isso irá aumentar as mamadas da madrugada”, explica Roseli.
A mastite é uma infecção das glândulas mamárias, que acontece quando bactérias entram pelas fissuras no mamilo e atingem o leite que ficou parado. Fique atenta aos sinais: dor intensa, áreas quentes e avermelhadas na mama, febre. Procure seu médico.
“Saí da faculdade achando que esse negócio de ter pouco leite não existia”, conta Natalia. A experiência mostrou que algumas mulheres produzem pouco mesmo. Mas, na maioria, a baixa produção é uma consequência do cansaço, do estresse e da má alimentação.
Comer bem, dormir e beber bastante líquido é o mantra das lactantes. Qualquer sonequinha vale. Se for difícil dormir durante o dia, procure repousar, sem muitos estímulos. Quanto aos alimentos, invista nos cereais integrais: arroz, trigo, canjica, milho, quinoa, cevada, centeio, aveia. Chá de erva-doce ou a mistura de ervas chamada Chá da Mamãe, feita pela Weleda, também ajudam. Seu médico pode também receitar tintura de algodoeiro, um remédio homeopático. E, se nada disso funcionar, converse com seu médico a respeito de outros medicamentos que deem uma forcinha na produção.