A gestação é uma oportunidade para o homem adotar hábitos que, além de repercutir em seu organismo, podem trazer benefícios para a mamãe e o bebê.
Após o nascimento da filha, Carolina, no retorno ao trabalho, Felipe Favorette Campanharo surpreendeu-se com a medida de sua pressão arterial. “Enquanto minha esposa, com acompanhamento médico e de nutricionista, ganhou peso adequado na gestação, eu engordei além da conta e fiquei hipertenso”, relata o ginecologista-obstetra e clínico geral da Universidade Federal de São Paulo. Foi a partir desse susto que ele passou a estimular os parceiros de suas pacientes a se cuidarem durante esses meses tão especiais.
O pré-natal masculino também é incentivado pelo Ministério da Saúde desde pelo menos 2016 com a criação de um projeto que recomenda a realização de check-up, atualização da caderneta de vacinas, entre outras atitudes. “Vai longe o tempo em que o papel do homem era o de mero provedor da família”, defende o médico. Há muitos bons motivos para trazê-lo para perto nessa fase.
Quanto maior o acolhimento do futuro-papai durante o período gestacional, mais segurança nas diversas etapas que virão. Campanharo fala, inclusive, em “maridoulo”, neologismo para doula – aquela que auxilia a mulher no parto. “Além de presenciar o nascimento do filho, o marido pode trazer apoio emocional, ao tentar acalmar a mulher, e ainda físico, quando massageia as costas e a lembra de respirar”, exemplifica.
Desde os primeiros meses da gravidez, um turbilhão de mudanças invade o cotidiano. A casa e o entorno social começam a passar por transformações.
Logo mais, as noites na balada, com a batida do DJ, serão trocadas por madrugadas ao som de choro ou, tanto melhor, das canções de ninar.
Conforme passam os meses, aumentam as preocupações. Desde questões relacionadas ao casamento e às finanças, passando por temores em relação à saúde da parceira e do pequeno que, em breve, chegará ao mundo. Enfim, não são poucos os anseios. Alguns homens, inclusive, apresentam a síndrome de couvade, o que se traduz em um conjunto de desconfortos parecidos com os da gestante. “A terminologia vem do francês, couver, e significa incubar ou chocar”, conta o médico. Foi cunhada em 1865, pelo antropólogo britânico Edward Burnett Tylor (1832-1917), a partir de estudos dos costumes de alguns povos antigos que mostravam homens se incumbindo das tarefas femininas: eles se colocavam, literalmente, no lugar das grávidas.
Enjoos matinais, alterações de humor, problemas de sono, males digestivos são alguns incômodos comuns e há ainda aqueles que engordam e ganham um abdômen mais avantajado. Existem indícios de que a ansiedade colabore para o aparecimento do distúrbio e é fundamental buscar ajuda especializada se os sintomas prejudicarem a rotina.
Inclusive, um novo estudo chinês, publicado no periódico British Journal of Obstetrics and Gynecology, mostra que sessões de psicoterapia na gravidez, realizadas pelo casal, contribuem para afastar a depressão nos primeiros meses pós-parto. E, infelizmente, ainda quase não há grupos de apoio voltados somente para os homens que vão estrear no papel paterno, nem aqui nem no exterior. Para o casal, o conselho é aumentar a cumplicidade em conversas francas e pôr para fora todos os medos. Outra saída bacana é montar uma rede de apoio, com amigos e familiares. Quanto mais aconchego, maior a tendência de abrandar as inseguranças.
Rever o estilo de vida durante a gravidez é uma das recomendações, tanto para a mãe quanto para o pai. O zelo com o sono é fundamental, assim como o combate ao estresse, o que ajuda sempre a atenuar a sobrecarga das emoções.
A adoção de um cardápio equilibrado também é sempre bem-vinda. Alimentação saudável, não custa reforçar, deve se estender por toda a vida.
Uma sugestão para os pais é dar uma de chef de cozinha o quanto antes. Pesquisas mostram que quem cozinha tende a se alimentar melhor. “Preparar as refeições, quando a grávida sente náuseas ou enquanto a mamãe se dedica à amamentação, é um ato de amor”, afirma Campanharo. Oferecer um prato de sopa não só ajuda a repor nutrientes, como reconforta. Para completar, o mestre-cuca vai fazer sucesso com as receitas vitaminadas das primeiras papinhas do filhote.
A exposição do feto à fumaça do cigarro pode estar ligada ao risco de parto prematuro
Trabalho de pesquisadores europeus, recém-publicado no periódico PlosOne, avaliou hábitos de mais de 200 mil pessoas e reforça a importância de um pai fumante apagar esse vício. Os cientistas destacam um elo entre a exposição do feto à fumaça e a risco de ocorrer parto prematuro, além do aumento da probabilidade de sobrepeso do filho na infância. Outra indicação é suar a camisa. O casal pode se exercitar junto, seguindo as orientações do obstetra. Por fim, a gestação pode ser o momento perfeito para desfazer o preconceito de que a ala masculina foge do consultório médico.
“Trata-se de uma oportunidade de ouro para afastar doenças, sobretudo males cardiovasculares”, ensina Campanharo. Muito além de garantir traquejo nas trocas de fraldas, o pré-natal masculino contribui para que o pai tenha mais saúde e disposição para estar ao lado da companheira e do filho, exercendo uma paternidade ativa.
Especialistas sugerem aos futuros-papais uma bela revisão durante o pré-natal, de preferência na fase de planejamento.
A avaliação contempla a tipagem sanguínea, que analisa o fator RH. Quando há incompatibilidade, ou seja, se a mãe é negativo e o pai positivo, são adotados procedimentos para evitar complicações. “Testes que detectam males como hepatites, pesquisa de HIV, sífilis e outras infecções sexualmente transmissíveis, ajudam a reduzir o risco para certas doenças congênitas”, diz a Dra. Miriam Dambros, urologista da Célula Mater.
Atenção com as medidas de pressão arterial e com o peso, investigação sobre doenças crônicas, caso do diabetes, além de análises de taxas de colesterol e triglicérides, são parte do protocolo.
Ainda no primeiro ano de estudos, a Dra. Miriam se encantou pelo sistema urinário e decidiu se tornar urologista. Ao longo dos 20 anos de carreira, lecionou na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e na Universidade de Maastricht, na Holanda.
Sente-se movida por casos desafiadores que chegam ao consultório, sobretudo quando tem a oportunidade de acompanhar o envelhecimento dos pacientes e estar presente em suas vidas durante essa fase.